03 maio, 2013

O direito de ser infeliz


          Hoje em dia as pessoas tem fugido com enorme avidez do sofrimento. 
Não, não a tempo para sofrer, para viver o luto, para ficar triste. Exigem de todos nós sorrisos e uma enorme euforia que, cá entre nós, é impossível sustentar durante todo o tempo. Todos passamos por situações desagradáveis, e o nosso coração já foi magoado várias vezes e será magoado outras tantas. Fugir? Só deixando de viver. Viver não implica somente a felicidade. Estamos sujeitos, todos nós, ao sofrimento, que pode bater a nossa porta, inclusive, quando menos esperamos por ele.
          O sofrimento, ou o denominado luto, precisam ser vividos, aliás, é saudável que isso aconteça. Ações como engolir o choro, fingir que nada aconteceu,  podem agravar e muito a dor sofrida por um indivíduo. Já passou pela situação de estar triste, magoado e vir outra pessoa (quase sempre um amigo), menosprezar o seu sentimento, dizer que não é nada e contar uma história mais cabeluda ainda? Pois é, dizem que seu sofrimento não é nada, que você tem que dar a volta por cima, já, agora. Sofrer vira sinônimo de perder tempo. Mas, como você quer reagir com alegria à perda de uma pessoa querida, por exemplo, e conseguir ir ao cinema na mesma semana, ou sair pra rir com os amigos? Se você conseguisse, aí sim, teria algo muito errado com você.           Portanto, temos sim direito a infelicidade. É claro, preciso dizer e salientar que tudo tem um tempo. Sofrer por motivo e em determinado período de tempo é saudável, porém prolonga-lo, ao ponto de alterar a sua estrutura de vida, seja nos campos afetivo, de trabalho, ou qualquer outro âmbito que faça parte de sua história, torna-se incômodo e não é vergonha alguma gritar por ajuda.
Sinta, sofra, ria, viva!

Beatriz Amorim


26 fevereiro, 2012

TOC- Transtorno Obssesivo Compulsivo

Hoje em dia, os transtornos de ansiedade estão entre as doenças mais comuns e vários estudos vêm apontando que estes reduzem, em grande escala, a qualidade de vida dos pacientes. Apesar de apresentarem pontos em comum, afetam de forma diversificada as diversas áreas do cotidiano dos portadores. O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), mais do que qualquer outro transtorno de ansiedade, é caracterizado por curso crônico, com uma grande frequência na variação da intensidade dos sintomas. (Eisen & Rasmussen, 1992, como citado em Niederauer, 2007).

“Geralmente a pessoa realiza uma compulsão para reduzir o sofrimento causado por uma obsessão.”

                  
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de obsessões e compulsões. As obsessões são ideias, pensamentos, imagens ou impulsos repetitivos e persistentes que provocam ansiedade. Compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que visam reduzir a ansiedade e afastar as obsessões. Geralmente a pessoa realiza uma compulsão para reduzir o sofrimento causado por uma obsessão. Para se fazer um diagnóstico de TOC é necessário que o nível da sintomatologia interfira no funcionamento social, interpessoal, ocupacional ou acadêmico do indivíduo e que os sintomas ocupem mais de uma hora por dia (DSM-IV, 1995, como citado por Gonzalez, 1999).
A pesquisa de Hollander et al (1996, como citado em   Niederauer,2007) revelou que 70% dos portadores apresentavam problemas nas relações familiares devido ao transtorno e 66% tinham dificuldades para fazer amizades e socializar-se. Observou-se que o TOC prejudicava o funcionamento social e ocupacional em mais de 50% dos indivíduos, sendo que 59% referiram o sofrimento de moderado a grave provocado pelas obsessões no domínio de bem-estar da qualidade de vida e 51% pelas compulsões.  Metade dos portadores tinha ideação suicida e quase 13% já havia cometido pelo menos uma tentativa de suicídio. Outro indicador de prejuízo no bem-estar foi abuso de álcool (18%) e outras drogas (13%)

“O tempo gasto na realização de rituais, o isolamento social e as desavenças familiares também parecem contribuir para o aumento do sofrimento e dos prejuízos na qualidade de vida.”

Em resumo, os indivíduos com TOC possuem muitos medos, são supersticiosos, perfeccionistas e envergonham-se de realizar os rituais, ocasionando brigas frequentes e isolamento, ao passo que portadores de esquizofrenia demonstram embotamento afetivo, falta de empatia e cuidados de higiene, e ainda costumam ser desconfiados, o que acarreta dificuldades de relacionamento e isolamento social. Isso explica por que ambas as doenças causam prejuízos importantes na realização de atividades diárias e nas relações sociais dos portadores, gerando intenso sofrimento. (Niederauer,2007)

Quer saber mais?

Referências:

Fontanella, B. J. B.(2006). Adolescente com compulsão de assistir TV: relato de caso. Revista de Psiquiatria do      Rio Grande do Sul 28(2), 211-214.

Niederauer, K. G. et al (2007). Qualidade de Vida em indivíduos com transtorno obsessivo-compulsivo: revisão da literatura. Revista Brasileira de Psiquiatria,29 (3), 271-278.

Gonzalez, C.H (1999). Transtorno obsessivo-compulsivo. Revista Brasileira de Psiquiatria, 21 (2), 31-34.

http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=79 Estraído em 25/11/2011.



28 dezembro, 2011

Violência Doméstica

Atualmente, a temática de violência doméstica tornou-se mais popular devido ao auxílio da divulgação da mídia. As vitimas podem contar com o apoio de diversas instituições a fim de solucionar os seus problemas familiares. Segundo a pesquisa de Silva et al (2007) observa-se nesses programas de atendimento à vítima, que a maioria das queixas (98%) parte de mulheres que são vítimas de alguma forma de violência no interior do espaço doméstico.Dessa forma, torna-se claro que a violência doméstica se configura numa forma cada vez mais brutal de violência contra a mulher, mesmo que esta já possa contar com atendimento especializado.
          É observado que a violência tem se agravado tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, isto é, as vítimas têm sofrido agressões (físicas) cada vez mais severas, que ocasionam a morte ou graves sequelas, que impossibilitam as vítimas para o trabalho e complicando, ainda mais, a sua já difícil situação (Silva et al, 2007).
          A violência doméstica ocorre no âmbito familiar ou doméstico, entre quaisquer dos membros da família e possuem diversificadas formas. Dentre os possíveis agressores, estão: maridos, amásios, amantes, namorados atuais, ou, até, ex-namorados ou ex-cônjuges. Na prática, articulam-se a violência psicológica e a violência física. A forma psicológica se manifesta direta ou indiretamente e provoca múltiplas consequências, entre elas: depressão, isolamento social, insônia, distúrbios alimentares, entre outros.
         Desta forma, segundo a pesquisa de Silva et al (2007) a violência contra a mulher é aquela que ocorre entre pessoas que tenham ou já tiveram relacionamento afetivo-sexual. A violência tem, como pano de fundo, uma relação que, mesmo desfeita, ainda deixou questões inacabadas. Diversas vezes, existem vestígios de vínculos afetivos permeados por mágoas, ressentimentos ou dependência psicológica, que impedem ou dificultam que a vítima possa identificar uma situação de violência.

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“[...] o agressor, antes de poder ferir fisicamente sua companheira, precisa baixar a auto-estima de tal forma que ela tolere as agressões.”
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         Desta forma, segundo a pesquisa de Silva et al (2007) a violência contra a mulher é aquela que ocorre entre pessoas que tenham ou já tiveram relacionamento afetivo-sexual. A violência tem, como pano de fundo, uma relação que, mesmo desfeita, ainda deixou questões inacabadas. Diversas vezes, existem vestígios de vínculos afetivos permeados por mágoas, ressentimentos ou dependência psicológica, que impedem ou dificultam que a vítima possa identificar uma situação de violência.
Os filhos que testemunham a violência psicológica entre os pais podem passar a reproduzi-la por identificação ou mimetismo (Silva et al, 2007), passando a agir de forma semelhante com a irmã, colegas de escola e, futuramente, com a namorada e esposa/companheira.
De forma geral, as consequências da violência doméstica infantil, segundo Miller (2002, como citado por Silva et al, 2007), são: ansiedade, que pode desencadear sintomas físicos, como dores de cabeça, úlceras, erupções cutâneas ou ainda problemas de audição e fala; dificuldades de aprendizagem; preocupação excessiva; dificuldades de concentração; medo de acidentes; sentimento de culpa por não ter como cessar a violência e por sentir afeto (amor e ódio) pelo agressor; medo de separar-se da mãe para ir à escola ou a outras atividades cotidianas; baixa auto-estima; depressão e suicídio; comportamentos delinqüentes (fuga de casa, uso de drogas, álcool etc.); problemas psiquiátricos.
A principal diferença entre violência doméstica física e psicológica é que a primeira envolve atos de agressão corporal à vítima, enquanto a segunda forma de agressão decorre de palavras, gestos, olhares a ela dirigidos, sem necessariamente ocorrer o contato físico. Muitas vezes, a vítima era mantida trancafiada dentro de casa, sendo ridicularizada perante os amigos (dele), a família (dele), e desautorizada perante os filhos, bem como também sofria diversas formas de ameaça.
          A violência conjugal se inicia de uma forma lenta e silenciosa, que progride em intensidade e consequências. O autor de violência, em suas primeiras manifestações, não lança mão de agressões físicas, mas parte para o cerceamento da liberdade individual da vítima, avançando para o constrangimento e humilhação. Como mostra Miller (2002, p.16, como citado em Silva, 2007), o agressor, antes de “poder ferir fisicamente sua companheira, precisa baixar a auto-estima de tal forma que ela tolere as agressões”.

         Este movimento da violência é sutil e, muitas vezes, imperceptível para ambos – agressor e vítima – e, com freqüência, a vítima tende a justificar o padrão de comportamento de seu agressor, o que a torna, de certa forma, conivente com ele. São comuns falas como estas: “Ele estava nervoso, não fez porque quis”; “Ele tinha bebido um pouco; se estivesse sóbrio não o faria”; “Ele tinha razão de ficar chateado, pois o meu vestido não estava bom”; “Eu deveria estar pronta. Pelo meu atraso, ele ficou irritado e fez o que fez.” Tais falas são formas de legitimar as atitudes do agressor, contribuindo para que a violência se instale e avance ainda mais.
     Da mesma forma, a prevenção da violência psicológica pode ser pensada como uma estratégia de prevenção da violência de modo geral, isto é, não só da violência familiar, mas também da institucional e social. O fato de uma pessoa crescer e desenvolver-se numa família violenta pode repercutir na forma de aprendizado de solução de problemas, produzindo um padrão de comportamento violento.
     A implementação da Lei Maria da Penha representa um estímulo e dá um caráter de urgência para a realização de novos estudos e pesquisas voltados a este novo olhar sobre o lugar dos homens no debate e nas ações sobre a violência contra a mulher.


Referências:
Silva, L. L. Coelho, E. B.S. Caponi, S. N.C.(2007). Violência silenciosa: violência psicológica como condição da violência física doméstica. Interface Comunicação Saúde e Educação11(21) 93-103. 
Lima, D.C. Büchele, F. Clímaco, D.A.(2008) Homem, Gênero e Violência Contra a Mulher. Saúde e Sociedade 17(2), 69-81.

18 setembro, 2011

Estigma

A Psicologia Social também se preocupa com um assunto relacionado muito com o preconceito e com as impressões que formamos sobre outras pessoas. Estigma, para quem não sabe, está relacionado com a "informação social", ou seja, com a informação que o indivíduo transmite sobre si. 
A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas. Então, quando um estranho nos é apresentado, os primeiros aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos, a sua "identidade social". Durante o tempo todo estamos fazendo algumas afirmativas em relação àquilo que o indivíduo que está a nossa frente deveria ser. 
Pode acontecer de surgir evidências de que o estranho possui um atributo que o torna diferente dos outros. E aí, aparece o problema: deixamos de considerá-lo uma criatura comum, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é uma estigma, principalmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande. 
Dessa forma, o termo estigma, será usado em referência a um atributo profundamente depreciativo. Fazemos vários tipos de discriminações. Utilizamos termos específicos de estigma como aleijado, bastardo, retardado,   baitola em nosso discurso sem, no entanto, pensar no seu significado original. 
E o estigmatizado? Como se sente? De antemão, vem aquela sensação de "O que será que estão pensando de mim?
São olhares, gestos e palavras... Pessoas estigmatizadas sofrem diariamente preconceito pela sua situação que, de uma forma ou de outra, os diferenciam dos demais. Devemos nos policiar para não deixar que nossas impressões os inferiorizem, afinal... Independentemente de suas características, são seres humanos como nós e DEVEM  ser tratados de forma igual.
Para finalizar, vale ressaltar que um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade do outro, portanto, ele não é nem honroso nem desonroso. Daí o cuidado especial que devemos ter com as generalizações. 
É o momento de rever nossos conceitos e parar para analisar como agimos perante os outros. Vamos praticar esse exercício! 

Para mais informações sobre o assunto, sugiro esta obra (na qual me baseei para escrever o post): 
GOOFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.
Tenham todos uma ótima semana!  
Marina Coelho.

13 setembro, 2011

Uma profecia que se realiza.

          Estive pensando...Quantas vezes impedimos que pessoas maravilhosas entrem em nossas vidas por causa de uma primeira impressão? "Ah, não fui com a cara daquela menina, parece ser tão metida!" Quantas vezes você já pensou algo nesse sentido ou soube que pensaram desse modo sobre você? Como diz o dito popular : A primeira impressão é a que fica. E o mais surpreendente é que ele está certo!
       Em psicologia social, estuda-se como a influência social causa alterações no comportamento do indivíduo. Por mais que ele tenha uma determinada personalidade, dependendo do contexto em que está, pode tomar atitudes completamente paradoxais com os seus princípios. Existe um conceito chamado de efeito de prioridade, o qual prova o dito popular referido acima. Formamos esquemas mentais como forma de armazenar nosso conhecimento, como livros em uma biblioteca. E os formamos com base nas primeiras informações que recebemos, ou seja, as primeiras impressões.
         Ao ler o meu livro, me surpreendi com a ocorrência de diversas situações no nosso cotidiano que, muitas vezes, passam despercebidas. Pense na seguinte situação: Se você considera uma pessoa antipática, por exemplo, você acaba criando um pré-conceito da referida pessoa. Sem perceber, você acaba tratando-a de tal modo que ela começa a ser realmente antipática com você.Em psicologia, essa situação chama-se Profecia auto-realizadora. Quantas vezes nessa vida já profetizamos coisas tão sem sentido? Vamos pensar melhor no julgamento que fazemos...Podemos estar excluindo pessoas maravilhosas de nossas vidas!

Uma ótima semana, repleta de boas profecias!
Beatriz Amorim

04 setembro, 2011




"A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz."
|Sigmund Freud|